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Mineiro: “Até o reino mineral sabe que os institutos de pesquisas têm práticas escandalosas”

Deputado estadual pelo PT, depois de ter sido vereador em Natal, Fernando Mineiro foi candidato a prefeito de Natal e com 85.915 votos, ficou a menos de 1.500 votos de disputar o 2º turno da eleição. Para falar sobre isso e muito mais, ele esteve no Alpendre do PN, onde conversou com os jornalistas Cefas Carvalho e Riane Brito (foto Jonathan de Assis). Confira:

Mineiro, você esperava  chegar tão perto de ir para o segundo turno?
Não só esperava chegar tão perto como pretendia ganhar as eleições. Nós trabalhamos para isso. Infelizmente não tivemos os votos necessários para passar para a segunda etapa. É importante ressaltarmos que o resultado eleitoral não é resultado só do ano eleitoral, é resultado de um trabalho anterior que nós desenvolvemos. Organizamos o PT em núcleos por vários bairros de Natal, nos organizamos nas quatro zonas da cidade, passamos 2011 debatendo a cidade com vários seguimentos e fazendo uma coisa fundamental: saindo do tradicional setor classe média do PT. Não foi por acaso, a nossa nominata de vereadores tinha representações de vários bairros de Natal, fato que não ocorria anteriormente. Fizemos uma aposta de que seria  possível reposicionar o PT na cidade, renovar em termos de referência. Por isso uma chapa com trinta e dois nomes. Foi construído um projeto para 2012, mas a população, infelizmente, escolheu outro caminho.

Como você avalia os ins­titutos de pesquisas, que não só no RN, mas em todo Brasil, erram feio em suas previsões?
Eles não marcaram bobeira. Até o reino mineral sabe que existe uma prática escandalosa dos institutos de pesquisas,  que são contratados por candidaturas e para quem trabalha cada um  dos institutos de pesquisa aqui no Estado. Com todo respeito aos profissionais e seus proprietários, mas nós sabemos que há uma indução. Então, existe uma combinação dos institutos de pesquisas com determinada parte da mídia que joga os dados de uma maneira muito acrítica. Como virou um escândalo nacional, eles inventaram a leitura de que foi um processo de trabalho, mas no dia da eleição existem muitas modificações. Desculpa de amarelo é comer­­ barro, então eu tenho cuidado em não usar desculpas para no fato de não ter sido eleito, mas é óbvio que  a maneira que os dados foram divulgados teve um peso imenso no resultado porque há um percentual enorme do eleitorado que vota em quem vai ganhar e aconteceu um duplo movimento: quem não queria votar em Carlos e via as pesquisas, votava em Hermano, porque teoricamente era quem tinha chance. Quem não queria o Hermano, votava no Carlos, ou seja determinou bastante. Agora espero que a CPI dos institutos de pesquisas no Brasil seja feita. Nós precisamos mudar a relação dos institutos de pesquisas com sua divulgação.

Mesmo as pesquisas se mostrando longe da realidade, o seu crescimento nas intenções de votos foram visíveis. A que você atribui isso?
Fizemos uma campanha muito focada nos bairros com caminhadas combinadas com programas na TV e no rádio. Desde o início definimos que a política que  iria definir o marketing e não o marketing que iria definir a política, ou seja, queríamos que a disputa eleitoral fosse apresentando propostas e debates sobre a cidade, discutir os problemas e apresentar o que achamos que deveriam ser as soluções, isso norteou nosso marketing. As pessoas chegavam para mim e diziam para atacarmos. Eu respondia que não, porque essa não é nossa linha. Nas ultimas três semanas eu sentia isso nas ruas e percebia a discrepância com os números das pesquisas.

A percepção de muita gente é de que a utilização das redes sociais deu uma alavancada na sua candidatura. Qual a análise que você faz sobre as redes sociais e como isso vai afetar as próximas eleições?
Eu acho que é de grande importância, não ainda como seria desejável. Eu sempre interagi muito nas redes e uso como canal de prestação de contas das nossas ações, como disputa de opinião. E cada vez mais acho que vai fluir em todos os lugares porque existe a democratização do acesso  ao mundo digital. Encontramos nos bairros mais populares os jovens com notebook, telefones e apare­lhos que permitem estar linkados. Isso muda a postura do sujeito em relação à sociedade e política. Eu vejo que a questão das redes sociais precisa de mais atenção na sociedade como um todo e o processo eleitoral como um deles. Em termos financeiros despende muito pouco dinheiro para fazer campanha. Eu usei bastante esse artifício e o interessante é que possibilita a interatividade. É uma mão dupla. Por exemplo, eu fui muito questionado nas redes sobre a posição do PT no segundo turno.

O candidato Robério Paulino recebeu 13 mil votos e o senhor não foi para o segundo turno por pouco mais de 1.400 votos. Você acha que a chamada esquerda, casos do PT e do PSOL, quando não se une acaba ajudando os chamados candidatos de direita?
Acho que não. O que faltou foi conquistarmos mais votos, com toda influência das pesquisas e outras questões, o que faltou mesmo foi conquistarmos mais votos, uma franja da sociedade acreditar que era possível. No início da campanha eu dei uma entrevista e me perguntaram qual era o maior desafio e eu respondi que seria vencer o senso comum do processo eleitoral de que o resultado já estava decidido. No início da campanha era maluco quem dissesse que haveria segundo turno em Natal, ainda mais que o eleito poderia ser outro; e, segundo, de que a política é tudo igual. Eu sinto uma sensação de dever cumprido porque fizemos um bom debate sobre a cidade, contrariando um pouco a idéia de que debater programa de governo e proposta não ganha voto.

O PT já está fazendo movimentação no interior do estado, fazendo visitas e conversando com prefeitos. Isso já é um pensamento para 2014?
Na verdade o PT sempre fez visitas ao interior. Eu defendo a tese de que nós devemos discutir 2014 no final de 2013 porque não dá para de antemão definir qual é o caminho que será feito, é congelar a política. Eu defendo que o final deste ano e o primeiro semestre de 2013 sejam trabalhados reorganizando o partido, fazendo um debate interno, referenciando lideranças e discutir o que queremos para 2014. Óbvio que queremos crescer. Mas, crescer como? À luz desse processo é que vamos definir nossas candidaturas.



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