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Bairro da periferia de Parnamirim sofre com violência mas mantém esperança e programas sociais

Jouse Azevedo

Maria Rosineide dos Santos, 34 anos, dona de casa, mãe de oito filhos. A renda da família, que reside no bairro Bela Parnamirim, é de R$ 500 mensal. O rendimento é 100% proviniente do Bolsa Família. O auxílio do Programa do Governo Federal está presente em 4.544 domicílios da região, ajudando a sustentar 15.288 pessoas que vivem entre Bela Parnamirim, Rosa dos Ventos e Morada Nova. Com característica de bairro de baixa renda, Bela Parnamirim tem como referência a falta de infraestrutura e alta taxa de criminalidade.
O bairro, que era Bela ainda não é reconhecido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mesmo sem fazer parte do Censo de 2010, pode-se considerar que a casa de Maria, com 10 moradores, faz parte da estatística do IBGE que mostra, no município de Parnamirm, 220 residências possuindo dez moradores ou mais.  O cenário, observado no entorno da casa da rua Mª Augusta da Silva, no bairro Bela Parnamirim, mostra que o local ainda luta para possuir saneamento básico, ruas asfaltadas e mais dignidade para a população.
Enquanto passa o dia em casa, cuidando dos filhos e sobrevivendo com o que lhe chega às mãos, Maria Rosineide luta para que um dos oito filhos não se envolva com violência ou com o tráfico de drogas, este muito presente no bairro. A renda do governo alimenta a família por uma parte no mês, dificultando a sobrevivência no restante dos dias. Enquanto era entrevistada, os dois filhos menores, Aílson (2) e Leonardo (4) comiam macarrão que havia sobrado do almoço.
"Compramos comida com o dinheiro que ganhamos e, quando começa a faltar alimento, acabo fazendo dívida nos mercadinhos daqui, com­prando fiado", relatou a dona de casa. A família de Maria consegue receber mais de R$500 de auxílio, porque acumula o benefício para seis filhos. A média do valor do benefício é de R$ 97. Umas das exigências para que seja concedido é obrigatoriedade de manter a criança matriculada e frequentando as aulas.
O bairro de Bela Parnamirim é carente e tem altos índices de violência.  Algumas ruas e vielas ainda lutam para sair do piso de barro. Sem muita opção dezenas de crianças brincavam pulando as poças de água de esgoto na última quarta-feira (1º). "Nós moramos em um lugar que está muito violento. Sempre ouvimos tiros ou descobrimos que acabam com vidas aqui por perto", destaca a dona de casa, que disse morar há 15 anos no local.
O morador que acompanhou a equipe de reportagem na visita ao bairro mora há 12 no local e relatou que a violência é a mais dura realidade das ruas de Bela Parnamirim. "O que mais intriga é a quantidade de tiroteios que ocorrem nas redondezas. Alem disso, há dezenas de terrenos abandonados, que atraem ainda mais a criminalidade", explicou. "Falta também oportunidade de lazer e emprego para os jovens.

Bairro inexistente
para o IBGE.


De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo de Parnamirim, o bairro de Bela Parnamirim foi criado pela lei de número 1369 de 2008. Para esse surgimento, parte do bairro Bela Vista foi transformado em Bela Parnamirim, enquanto a outra metade já pertencia ao município vizinho, Macaíba.
O analista do IBGE, Ivanilton Passos, respondeu em nota que, de acordo com consulta realizada à cartografia do Estado, as leis de atualização dos bairros dos municípios do Rio Grande do Norte, que foram entregues depois do prazo estabelecido, não foram incorporados neste CENSO 2010, ficando para uma futura nova atualização.

Polícia Militar

Para o Cel da PM no município, Jair Junior, o que caracteriza a insegurança do bairro é um conjunto de fatores recorrentes de bairros periféricos. A falta de infraestrutura, a característica de bairro dormitório, a grande quantidade de terrenos baldios e a insuficiência de oportunidades para os moradores como creches e empregos acabam por agravar ainda mais a insegurança.
Para a PM, o que faz aumentar ainda mais o número de ocorrências são os furtos e arrombamentos praticados para alimentar o vício de drogas. "A falta de Delegacias abertas à noite e nos finais de semana também contribui para a insegurança, já que é necessário o deslocamento da viatura com a vítima até a plantão Zona Sul, em Natal, deixando, assim, menos efetivo para o município de Parnamirim", lamentou Cel. Jair Junior.
Para a PM, os últimos homicídios registrados em Bela Parnamirim foram cometidos por motivos pessoais, como acerto de conta, muitas vezes, por tráfico de drogas. Uma das sete viaturas da PM atende diretamente o bairro. A iluminação pública insuficiente das ruas de Bela Parnamirim facilita e acaba propiciando a insegurança local.

Atendimento social tenta mudar realidade

A situação delicada de bairros periféricos como Bela Parnamirim destaca a importância de Políticas Públicas no tocante à assistência social e à diminuição da violência. Com um alto índice de criminalidade registrado no município, é cada vez mais necessária a presença do poder público no dia-a-dia de crianças e jovens.
Reduzindo o índice evasão escolar e, ao mesmo tempo, oferecendo atividades extra curriculares para as crianças e jovens de Bela Parnamirim, o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) oferece um outro turno para estudantes de 7 a 17 anos, inseridos em famílias de baixa renda.  A unidade, localizada em Rosa dos Ventos, também recebe os moradores de Bela Parnamirim.
Para a Diretora do PETI, Mª do Carmo de Santana, o prédio aconchegante e as atividades contribuem para a diminuição da violência, ocupando com atividades prazerosas cerca 400 crianças e jovens. No local, os beneficiários recebem uniformes, realizam três refeições diárias e transporte. Para o ano que vem, 150 famílias já aguardam cadastro.


Foto: Jouse Azevedo

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