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Irreverência das Kengas é objeto de exposição fotográfica

Paulo Jorge Dumaresq

Há 29 carnavais elas atraem e distraem o folião natalense no Centro Histórico, proporcionando um show de deboche, irreverência e transgressão no domingo de carnaval. São drag queens e travestis que investem pesado no visual para participar do desfile que elege a Kenga do Ano. Mas há aquelas que preferem apenas circular pelas ruas Vigário Bartolomeu e Ulisses Caldas, onde fica montado o palco do concurso, sem se submeterem ao crivo dos jurados. Apenas desfilam no corredor da Vigário – ou seria do Vigário? - por puro exibicionismo. Algumas já tomaram tristeza, hoje tomam alegria.
Logo nas primeiras horas da tarde do domingo de carnaval, ainda sob o sol implacável do verão natalense, as vedetes da festa começam a chegar “montadas” em saltos altos, fantasias, adereços, cílios postiços e seios fellinianos, arrancando olhares curiosos e admirados, risos e recebendo aplausos, apupos e “cantadas” do sexo masculino. A maioria ignora. Porque na psicologia de uma Kenga bem resolvida, o único e raro momento do carnaval no Centro Histórico é para ser o trampolim da alegria, do bom humor e do glamour.
Como que transpostas do filme “A Gaiola das Loucas”, do diretor Edouard Molinaro, para a vida real, as Kengas confirmam todos os predicados traduzidos em alegria, brilho, cores e volúpia. A Kenga é um mistério psicológico em sua transparente transgressão. Melhor: não há mistério algum. O ser humano é que perdeu a faculdade de aproximação às forças espontâneas. Algo que a psicanálise e a sociologia tentam explicar nos livros.
Termômetro da folia momesca no domingo de carnaval na Cidade dos Reis Magos, o desfile das Kengas mobiliza todos os gêneros humanos, classes sociais e faixas etárias. São milhares de natalenses que lotam as ruas Vigário Bartolomeu e Ulisses Caldas para admirar as atrações da festa.
A intenção desde o início do evento é fortalecer e fixar a imagem de Natal como polo turístico, unindo a descontração daqueles que brincam o carnaval de forma espontânea e sem preconceitos, afora a expansão dos canais de participação ativa do folião natalense no intuito de contribuir culturalmente para a capital potiguar. A ideia do idealizador do desfile, o carnavalesco, restauranteur e produtor cultural, Lula Belmont, é agregar as pessoas que gostam de uma folia mais irreverente no Centro Histórico, na tentativa de revitalizar o carnaval de rua da Cidade Alta. Algo difícil de ocorrer.
O evento que começou de forma despretensiosa em frente à antiga boate Broadway, na rua Felipe Camarão, em 1983, ganhou adeptos com o passar dos anos. Em 1984, o desfile passou para a confluência das ruas Vigário Bartolomeu e Ulisses Caldas, onde permanece até os dias de hoje. A estrutura de palco só veio mais tarde. Lula Belmont lembra que em tempos idos o desfile era realizado até em cima de caminhões. Hoje, com satisfatória infraestrutura, o evento ocorre em toda sua complexa plenitude libertina.
O nome “Kenga” surgiu de uma consulta aos frequentadores da Broadway. Ganhou a sugestão do produtor cultural Marcos Sá, logo acatada por Lula Belmont. Descoladas e bem-humoradas, as apresentadoras Jarita Night and Day e Shakira fazem um show à parte. Tecem comentários (des)airosos sobre as concorrentes ao concurso. Nada mais nada menos que burlesco. É conveniente ressaltar que a comissão julgadora não elege necessariamente a Kenga mais bonita ou produzida, contudo a mais “criativa” ou, como se diz no linguajar chulo, a mais “fuleira”.
Há 11 anos registrando o desfile de forma descompromissada, em 2012 o fotógrafo e hedonista, Antonius Manso, foi convidado por Lula Belmont, para ser o fotógrafo oficial das Kengas. Mas antes de apontar sua lente para as starlets do carnaval natalense, Manso inaugura a exposição “As Kengas São fogo”, com 22 registros de antigas e recentes folias, ao som do DJ Rafael, na quinta-feira dia 9, às 19 horas, no Bardallo’s Comida & Arte, localizado na rua Gonçalves Lêdo, 678. Oportunidade em que o público simpatizante poderá conferir toda a doce lascívia das belas da(o) Vigário.
Manso considera as Kengas um marco sociocultural na folia de momo papa-jerimum. No pensamento de Delirius Criativus, como se define o fotógrafo, o importante na vida é brilhar e ser feliz, seja na passarela da vida ou na da Vigário Bartolomeu. “A fantasia é a essência do carnaval. E o carnaval é a pura e, ao mesmo tempo, oculta fantasia do ser humano”, filosofa.

Foto de Antonius: Divulgação

Foto da Kenga: Antonius Manso (uma das fotos que estará em exposição)

Um comentário:

  1. muito boa essa divulgação,parabéns mais uma vez,pelo blog que estar sempre em harmonia com a cultural em garal.
    antonius manso

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