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Hugo Manso: "Não serei uma sombra de Wilma, mas um companheiro de chapa com perfil diferente"


Ex-vereador em Natal e um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT) no Rio Grande do Norte. Agora, assume a posição de pré-candidato a senador ao lado da ex-governadora Wilma. Confira a entrevista que o professor Hugo Manso concedeu aos jornalistas Cefas Carvalho e Roberto Lucena:

Cefas Carvalho: Qual sua expectativa da sua candidatura ao enfrentar nomes fortes como Wilma de Faria (PSB), José Agripino (DEM) e Garibaldi Filho (PMDB)?
Fazer um bom debate. Chamar a discussão para um plano de projetos e propostas. Esclarecer o que é o Senado. O fato de estar ao lado de Wilma, me coloca num patamar importante. Confesso que é algo que valoriza a minha militância. Já havia feito essa militância, em 2002, num outro contexto: tínhamos uma chapa pura do PT contra chapas do PMDB e do DEM. Me saí bem. Fiz 218 mil votos, porém, não havia a experiência do governo Lula para ser relatada. Não havia, no RN, a experiência de um mandato parlamentar federal. [Em 2002] Nós falávamos de uma expectativa: “caso Lula vença vamos fazer isso e aquilo”. Hoje é diferente. Nós fizemos. A experiência parlamentar exitosa de Fátima Bezerra (PT) é um fato. Vamos associar isso à possibilidade de termos uma vaga no Senado, como ocorre em outros estados. O fato de serem três gigantes da política, me cria uma dificuldade imensa. Não sou do tamanho deles, não terei uma campanha com as condições materiais que eles terão. Porém, a campanha ainda não começou e existem dois elementos importantes. Primeiro, parte grande do eleitorado não sabe que se vota em dois senadores. Segundo, mesmo com a superexposição que eles – particularmente Garibaldi e Agripino – têm, todas as pesquisas indicam que um percentual elevado ainda não decidiu nem o primeiro senador.
CC: Você confia, então, no segundo voto?
Honestamente, para mim tanto faz se você vai votar em mim no primeiro ou segundo voto. Eu brinquei com Wilma dizendo: “Não tenho problema de ser o segundo voto, porque quando cai na urna, embaralha” [risos]. Essa história de segundo voto quer dizer que o eleitor tem uma preferência por uma pessoa. Se todos os eleitores votarem em mim como segundo voto, ótimo. Para nós, do PT, vamos votar em Hugo Manso e Wilma. O pessoal do PSB vai votar em Wilma e Hugo Manso. O importante é o resultado disso.
Roberto Lucena: E como foram as conversas com o PT e PSB até chegar a indicação do seu nome?
Nós alimentamos, durante 2009, uma aliança com o PMDB. Provocamos o entendimento para que tivéssemos o PT com o PSB, PMDB, PR e PDT numa grande chapa. Pensamos na hipótese de termos Wilma e Garibaldi aliados para o Senado. Ocorre que Garibaldi apaixonou-se pelo DEM. Ele [Garibaldi] quis essa opção e causou um problema para o PMDB. O PMDB teve que inventar uma coligação diferenciada aonde oficialmente não terá candidato ao governo para poder viabilizar esse casamento de Garibaldi com José Agripino e Rosalba Ciarlini (DEM). Nós passamos a considerar a condição do PT reivindicar uma presença na chapa do Senado no início de 2010. Surgiu a candidatura de Carlos Eduardo (PDT) e pensamos sobre nosso voto ao governo. Decidimos votar em Iberê Ferreira (PSB), pois o PSB do RN contribui muito para que o PSB nacional apoiasse Dilma Rousseff (PT). O resultado desse processo foi o surgimento de um consenso do PT que deveríamos indicar um senador. Aí os nomes surgiram: Fernando Lucena, o meu, Júnior Souto e José Rodrigues. O debate foi feito e nem foi preciso fazer uma prévia, pois a maioria indicou o meu nome. Vamos bem para a campanha e vamos surpreender.
RL: Alguns dizem que o senhor não tem penetração no interior do estado, não é um nome conhecido. Como trabalhar essa questão?
O deputado federal Betinho Rosado (DEM) disse que se o PT quisesse fazer uma disputa de verdade deveria ter indicado o nome de Fátima. É o mesmo que dizer se quiséssemos fazer uma disputa de verdade teríamos que mudar a Constituição e lançar Lula. Fátima, venhamos e convenhamos, é uma excepcional deputada federal. Vamos tirá-la da condição de fazer a reeleição para disputar o Senado por quê? Ela [Fátima] vai desempenhar um belo papel como candidata a deputada federal, terá o mandato renovado. Nossa disputa para o Senado não é acovardada. A postura de Betinho foi acovardada. Ele falou aquilo querendo limpar a disputa de federais. Isso é uma visão mesquinha do processo político. É verdade que meu nome não é muito conhecido. Não posso ser comparado a Garibaldi, Wilma e Zé Agripino. Agora, são 30 anos de construção do PT. Temos o partido organizado em 108 municípios. Sou professor do IFRN, passei cinco anos coordenando o programa “Território da Cidadania”. Os agricultores familiares, os sindicatos rurais todos me conhecem. As ONGs, grupos de jovens, de teatro, nos conhece. Posso não ser um cara muito conhecido no RN, mas não sou um total desconhecido. Nosso nome tem história e tradição e nossa parceria com Wilma, diferente do que alguns comentam, é positiva para Wilma e para nosso crescimento.
CC: Muitos dizem que a candidatura de Iberê ainda não andou. Qual sua análise?
A identificação da doença em Iberê, às vésperas da sua posse no Governo, deixou muitas pessoas confusas. Acredito que ele próprio tenha tido dúvidas. É um assunto delicado que alguns se aventuraram a falar e queimaram a língua. Não fizemos nenhum tipo de pressão política sobre ele. O deixamos à vontade. Passados mais de 45 dias da identificação do câncer, Iberê está curado. Domingo [dia 23], fizemos um ato de solidariedade e o parabenizamos. O astral de Iberê é excelente. Os médicos afirmam que ele está curado. Houve um prejuízo, não resta dúvida. A expectativa que tínhamos construído é que a posse de Iberê seria quase um lançamento de campanha, mas não foi possível fazer isso, dado às circunstâncias. Iberê estava recém-cirurgiado e não podia nem levar uma tapa nas costas. Nesse meio termo, a candidatura de Carlos Eduardo ocupou bem um espaço e um fato que temos segurança é que haverá segundo turno no RN e tende a ser Rosalba contra Iberê.
RL: E como vai ser a campanha ao lado de Wilma?
Não seremos como Batman e Robin. Não serei uma sombra de Wilma. Serei um companheiro de chapa com um perfil diferente. Estamos aliados politicamente apontando o mesmo sentido da disputa nacional. A estratégia é termos agendas próprias e encontros constantes. Vocês não vão nos ver de mãozinhas dadas em todas as ruas do RN. Vão ver o meu discurso semelhante ao dela. Teremos dificuldades. Algumas lideranças, como Henrique Alves (PMDB), vota em Wilma e em Garibaldi. Temos que respeitar, mas vamos trabalhar o voto casado.

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